António Zambujo

 

Não há outra voz assim na música portuguesa. No fado ou noutro género qualquer. Porque a voz de António Zambujo é do fado, profunda e enraizadamente fadista, mas também faz lembrar outras vozes, individuais e colectivas.

Há outros fadistas assim: Camané tem voz de fado e de outras músicas (basta lembrarmo-nos da sua participação nos Humanos); Ricardo Ribeiro tem voz de fado e de flamenco e se preciso fosse do qawwali paquistanês. Mas em António Zambujo nota-se algo ainda mais diverso e inexplicável: uma voz que remete para o fado de Lisboa mas também para o cante alentejano, o fado de Coimbra, para Paulo Bragança e Caetano Veloso, para Antony Hegarty e Devendra Banhart. E uma voz embrulhada agora num fado cristalino, vivo – a evolução da sua música entre o primeiro álbum, O Mesmo Fado (2002) e Outro Sentido (2007), com passagem por Por Meu Cante (2004), é absolutamente notável – mas que convive facilmente com outros sons. Oiça-se a maneira como o coro feminino de vozes búlgaras Angelite entra no tradicional açoriano “Chamateia” e embala a voz de Zambujo (em Outro Sentido); oiça-se como, também no mais recente álbum, Zambujo canta música brasileira ou, no anterior, cantava música alentejana, e como tudo isto faz todo o sentido na sua música.

Source: António Pires, Time Out

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